Qual é o meu lugar no mundo?

A psicanálise, a partir da escuta do singular e das manifestações do desejo de cada um, é uma ferramenta que possibilita, a partir da fala, que cada pessoa em sua subjetividade possa existir e dar corpo a pluralidade de formas de viver que melhor convém para si. Ao se perceber ocupando determinado lugar, ou fixado em posições que são geradoras de sofrimento, o sujeito pode então escolher de que maneira quer ocupar esse lugar, ou que não quer, possibilitando a instauração de algo novo, algo próprio de cada um.

É comum que a tentativa de identificação com determinados papéis sociais seja geradora de sofrimento e angústia para aqueles que não se enquadram/reconhecem ali, em moldes que podem acabar restringindo, sufocando, ou dificultando a modelagem e contorno de cada pessoa – com seu traço único – do espaço e lugar que deseja ocupar. Por vezes, isso pode gerar frustrações e sentimentos de inadequação, como se o problema estivesse depositado naqueles que são desviantes, que não se adaptam. Porém, uma importante pergunta acaba ficando de fora nessas situações, pergunta essa que costuma ser feita em determinado momento de uma análise: “Por que estou buscando ocupar esse lugar?“. Momento crucial, seguido de inúmeros outros questionamentos que vão desmontando a lógica de enquadramento a qual todos somos atravessados ao existir, daquilo que nos antecede e funda, mas que em determinado momento não nos corresponde mais

O desafio passa a ser o confronto com o reconhecimento de uma versão de si criada a partir dos ideias estabelecidos social e culturalmente, mas que ao mesmo tempo podem restringir e barrar movimentos desejantes, originais. Ainda, em casos de imigração, nos quais você pode se deparar com culturas e formas de viver que contrastam com a sua, o esforço psíquico para fazer morada a partir da sua bagagem e poder mesclar o dentro e o fora em meio a um espaço estrangeiro, pode ser gerador de muita angústia. 

Como todos sabemos, cada escolha envolve uma renúncia, mas tem renúncias que dizem de nossos pilares, cabendo a cada um descobrir o que aceita renunciar em prol daquilo que diz respeito a si, aos seus desejos, e descobrir quais traços são inegociáveis, buscando uma forma de conciliar com o espaço que ocupa. A virada de chave se dá ao perceber que o reconhecimento pode surgir de vários lugares e a partir de diversas formas, possibilitando a cada um se manifestar na tela da vida com o estilo e contorno que melhor o representem, sendo configurados a todo momento, disformes, inacabados e incompletos, mas que garantem um movimento constante e traço diferencial de cada um.